Etnografia como pesquisa e assessoria: construindo políticas de articulação

Raquel Oliveira Santos Teixeira

Resumo


No Brasil é central a relação entre a prática etnográfica e os direitos dos grupos afetados por projetos de desenvolvimento. Nesses processos conflitivos, a etnografia pode se realizar a partir da dupla inserção como pesquisa e assessoria. O objetivo deste artigo é refletir sobre essa inserção, a partir da experiência como pesquisadora e assessora junto às comunidades rurais do Médio Jequitinhonha ameaçadas pela instalação da barragem de Murta. Serão examinados os processos político-culturais envolvidos na trajetória do confronto, destacando como a atuação dos agentes num campo estruturado de lutas modula a própria experiência etnográfica e, consequentemente, os discursos, estratégias e narrativas produzidas tanto pelos agentes locais quanto pela própria pesquisadora. Quando a memória coletiva assume relevância e os direitos territoriais se tornam um topos argumentativo fundamental, as posições enunciativas de pesquisa e assessoria se conjugam e se precipitam na textualização da experiência etnográfica, desse modo, a conjuntura do conflito se desdobra nas práticas do grupo e do(a) antropólogo(a), modificando os termos da interlocução entre os sujeitos da pesquisa e colocando novos papéis, expectativas e performances em jogo.

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