ALTERIDADES E PAISAGENS NA COMUNIDADE BOA ESPERANÇA, RDS AMANÃ (AM)
Resumo
Este artigo explora alguns desdobramentos da relação entre comunidade local e pesquisa arqueológica. A reflexão é desenvolvida a partir da comunidade ribeirinha Boa Esperança, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Amanã, localizada próxima à confluência dos rios Japurá e Solimões, estado do Amazonas. Para a construção da história cultural do lago Amanã, partimos do pressuposto de que os sítios arqueológicos são produtos de diferentes usos e grupos humanos, havendo a necessidade de compreender a dinâmica e contínua transformação desses lugares. Para as pessoas de Boa Esperança, os vestígios arqueológicos não são índices de ancestralidade, ao contrário, apontam para antigas e distintas formas de ocupação. No discurso local, não há uma relação necessária entre o
mundo ribeirinho e o passado pré-colonial, negando-se uma continuidade histórica das habilidades de engajamento com o ambiente. Argumento que os significados da pesquisa arqueológica entre as pessoas desta comunidade são produzidos levando em consideração diferentes graus de relação com o passado indígena da região, que, em última instância, envolve as categorias sociais locais e a trajetória dos indivíduos que se autodenominam “arigós”. Os vestígios e contextos arqueológicos tornam-se dispositivos de acesso às memórias e afirmação do grupo social, pela perspectiva da alteridade. Nesse mesmo sentido, na paisagem da comunidade diversos elementos são eleitos como significativos e que ajudam a contar, rememorar e construir narrativas sobre as pessoas e o passado.
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