A cerâmica dos cerritos no Pontal da Barra – Pelotas/RS: por uma (necessária) revisão conceitual da tradição Vieira

Resumo

“Cerritos de índio”, ou “Aterros dos campos do sul” são as denominações correntes de uma manifestação cultural arqueológica específica do bioma pampa sul-americano. São sítios arqueológicos monticulares compostos predominantemente por sedimentos, vestígios arqueofaunísticos, arqueobotânicos, líticos, sepultamentos humanos e materiais cerâmicos arqueológicos, que ocorrem desde aproximadamente 5000 até 200 anos A.P.. A indústria cerâmica dos cerritos foi caracterizada como tradição Vieira, sendo entendida como diagnóstico da homogeneidade e simplicidade cultural das populações indígenas “marginais” que habitaram e construíram os montículos no Pampa. Neste artigo, através da análise de coleções cerâmicas oriundas de cerritos localizados no banhado do Pontal da Barra, localizado no estuário da laguna dos Patos, município de Pelotas-RS, problematizaremos a definição da tradição Vieira e tentaremos demonstrar que, apesar da grande reoxigenação teórica que tem impulsionado a “arqueologia cerriteira” em novas direções ao longo das últimas décadas, pouco foi alcançado no que diz respeito a uma atualização ou redefinição conceitual e tecnológica destes vestígios cerâmicos arqueológicos. Demonstraremos também que, para os materiais cerâmicos do contexto arqueológico do Pontal da Barra, a lógica da homogeneidade e simplicidade tecnológica da tradição Vieira é inadequada e necessita de implementos descritivos mais substanciais, principalmente no que diz respeito às técnicas e tecnologias de produção.