A coleção lítica de superfície e o palimpsesto no sítio arqueológico Praça de Piragiba (Bahia)

Juliana de Resende Machado

Resumo


Coleções arqueológicas de superfície sempre devem ser questionadas quanto a sua temporalidade e homogeneidade. É o caso da coleção lítica do sítio Praça de Piragiba, localizado no estado da Bahia. Desde 1996, este sítio é estudado pela equipe de arqueologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA). O laboratório de Tecnologia Lítica do Museu de História Natural da Universidade Federal de Minas Gerais (MHNJB-UFMG) colaborou nos trabalhos de campo, realizando coletas sistemáticas em superfície. Neste trabalho demonstramos o potencial da análise tecnológica que, junto com observações tafonômicas e o conhecimento da arqueologia regional, permite avaliar a homogeneidade de uma coleção em contexto complexo. Nosso corpus totaliza 2.964 peças líticas vindas de duas áreas do sítio. O reconhecimento dos estigmas de lascamento e a leitura diacrítica são primordiais para o método. Estes, aliados à distinção dos estados técnicos dos instrumentos e à identificação dos suportes, permitem inferir sobre a tendência de uma indústria. As duas áreas têm coleções bem distintas. A coleção é mais homogênea na primeira área. Existem peças bifacialmente lascadas e seus restos de produção. Já na segunda, além destes mesmos vestígios, encontram-se peças em processo de dessilificação como instrumentos unifaciais, lascas de percussão direta macia e dois fragmentos de pontas de projétil finalizados por pressão. As técnicas de lascamento e matérias-primas empregadas para cada classe de objeto sugerem a coexistência de lógicas técnicas distintas. Assim, um sítio por muitos anos considerado uniocupacional, conexo à tradição cerâmica Aratu, teria parte de sua coleção lítica relacionada a outros períodos mais antigos.


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