O antropólogo como expert em controvérsias científicas e jurídicas: a construção dos relatórios circunstanciados de identificação e delimitação de terras indígenas

Resumo

Este artigo aborda o tema da atuação profissional de antropólogos em procedimentos de regularização fundiária de terras indígenas. As questões investigativas dizem respeito a construção de argumentos técnico-científicos por estes experts, neste contexto. Nestes procedimentos, recentemente, a atuação dos antropólogos enquanto experts tem sido questionada nos principais veículos de comunicação do país, postulando-se que seria impossível a produção de um laudo isento, neutro e compromissado com a “verdade”. Buscou-se analisar a atuação destes profissionais por meio da noção de expert, presente nas obras de Latour (2004) e Jananoff (1995), e da sociologia e antropologia da tradução. A metodologia de investigação foi baseada em análise documental da literatura antropológica e normativa da administração pública produzida sobre o tema. Argumenta-se que a atuação dos antropólogos enquanto experts está atrelada à dinâmica do Direito, ao invés da ciência. A ciência com a qual os experts constroem seus argumentos é produzida por meio de um exercício de tradução que envolve as esferas da sociedade e natureza. A separação artificial entre natureza e sociedade promovida pela filosofia da ciência tradicional é o que embasa os ataques à atuação dos antropólogos.